(I) Lideranças, Partidos e Comunidades em Tempos de Mudança.
Em
tempos de transição ou grandes mudanças como o é agora, é fundamental que
tenhamos lideranças fortes e justas, que actuem como a luz de um farol
indicando a um mundo confuso, o rumo a tomar, de modo a levar a humanidade a
bom-porto. Ser líder de verdade na atualidade, implica enfrentar enormes
desafios em face a uma crescente complexidade no teatro de acção política,
económica ou social, em resultado de:
1. O avanço galopante da globalização, que
requer uma nova visão para soluções económicas, sociais e ambientais globais,
baseadas no primado da justiça e no respeito pela diversidade cultural;
2. O avanço dos nacionalismos extremos por
parte de algumas franjas de populações que incendiadas pelo medo, e até mesmo
pela ignorância, reagem à globalização, com o saudosismo a uma realidade incompatível com o mundo atual. E se na nossa
perspetiva tais atitudes constituam verdadeiros
cantos-de-cisne perante a evidência de uma nova realidade multicultural
imparável, devem no entanto ser solucionados
e apaziguados a contento;
3. O conhecimento que se expande
exponencialmente, tornando impossível o completo domínio nas diversas áreas,
por parte de um indivíduo. Esta condição requer a necessidade por parte de quem
lidera uma humildade para aceitar a formação de equipas multidisciplinares que
o possam aconselhar e auxiliar nas tomadas de decisões bem informadas para
responder às necessidades e anseios de cidadãos ou colaboradores. Esta
circunstância faz apelo à prática do processo
de consulta a vários níveis e esferas, de modo a que ouvidas as múltiplas
perspetivas sobre um dado assunto se tome, com coragem e determinação, as
decisões mais adequadas em causa;
4. A
descentralização reclamada por populações famintas de soluções em muitas das
áreas de atuação, é outro desafio para a liderança nestes tempos de transição.
Hoje
é fundamental que os líderes saibam construir
pontes para novos tipos de alianças, demonstrando também coragem para queimar
velhas pontes que pretendam perpetuar alguns comportamentos do passado,
incompatíveis com novas soluções de harmonia universal.
O
sistema partidário tradicional parece ser um dos baluartes da tradição
democrática que necessita de ser modernizado, ou mesmo eliminado. Os resultados
eleitorais recentes em vários países (Portugal , Espanha, França, e até na
Inglaterra) dão fortes indícios que este sistema divisionário já não satisfaz
na plenitude as necessidades do mundo atual. Ganham cada vez maior relevo
socio-político as organizações de cidadãos estruturadas em comunidades fortes,
equilibradas e livres de todos os tipos de preconceitos, onde cada um dos seus
membros é visto como importante elo no desenvolvimento de soluções para os
problemas identificados.
Em resumo, os líderes atuais devem ser capazes
de guiar com base no conhecimento e na experiência, sem deixar de ser capazes
de vislumbrar novas soluções justas, em especial para problemas que se
perpetuam há muito, como a desigualdade na divisão da riqueza mundial, na
educação e alcance de padrões mínimos de uma vida condigna. E se a situação
mundial atual se pode assemelhar a um
Titanic em completa deriva, será necessário haver lideranças capazes de decidir
com a urgência que a situação impõe.
No
entanto, mesmo parecendo que o nosso navio global
possa estar desgovernado, à deriva e sem rumo certo, acreditamos na capacidade
humana, quando congrega a sua realidade intelectual e espiritual, para
encontrar as soluções que nos transportarão a um futuro risonho da humanidade.
A questão essencial é apenas se esse futuro será alcançado após um maior ou
menor sofrimento para a maior parte da humanidade, em consequência das decisões
dos líderes e de ações individuais de responsabilidade perante as suas
comunidades.