Latina forma de estar (I)
Do livro “It´s Our Turn to Eat” de Michela Wrong, recordo
o episódio em que a autora - filha de mãe italiana e de
pai inglês - relata que em pequenina contou um dia à mesa
ter conseguido ludibriar o revisor do autocarro viajando sem bilhete.
A mãe, fazendo jus à atitude latina,elogiou-a dizendo-lhe que era uma menina esperta; o pai, que pelo contrário era "very british”, enfurecido, ralhou-a dizendo que se toda gente fizesse o mesmo, lá se ia o sistema de transporte de Londres.
E esta hein, como diria Fernando Pessa
sábado, 25 de fevereiro de 2017
Adeus Londres, viva Portugal....
Londres é uma cidade deslumbrante com uma multiculturalidade
impressionante, pelo menos até ao Brexit.
O meu filho que lá estuda diz-nos que o que mais
gosta daquele país, quando está de regresso a Portugal, é a organização e ordem da sociedade inglesa. Mas confessa que quando lá está tem alguma
saudade da nossa tendência em re-interpretar as muitas leis que temos, de modo a não cumpri-las, aliás como é típico em muitos países latinos.
Há uns anos estava eu e a família no fim do
nosso período de 12 dias de férias em Londres e precisámos de um táxi que nos levasse ao Aeroporto de Stansted de regresso a
Portugal. Chegado o carro, o taxista tentou colocar as nossas cinco malas no
porta-bagagens. Verificou que com todas aquelas malas não seria possível fechar o
porta-bagagens, e muito simpaticamente
disse-nos: “Não posso
levar-vos, visto que não conseguiria fechar por completo o porta bagagens e estaria a infringir a lei”. E, com aquela frieza típica, retirou as malas que já estavam no
porta-bagagens do táxi e deixou-nos
alí à porta do
apartamento que tínhamos alugado, sugerindo que
chamássemos outro táxi. Fizemos uma segunda tentativa e o novo taxista procedeu
como o anterior, mas este aconselhou-nos a ir de autocarro. Contrariados, fizemos
a viagem de autocarro até ao referido
aeroporto, mas já não a tempo para o nosso voo para Portugal. Ao fim de doze
horas (cansativas) de espera pelo voo seguinte, partimos com destino ao
Aeroporto Sá Carneiro. Ao sairmos do
aeroporto dirigimo-nos para a zonas dos táxis,
receosos que provavelmente não aceitariam
levar-nos com tantas malas. Chegada a
nossa vez na fila, o taxista luso colocou as mesmas malas no porta-bagagens e
verificou o mesmo problema: a porta do porta-bagagem não fechava. Já nos preparávamos para as retirar quando ouvimos o taxista gritar para
um colega seu: - Ó Zé, tens aí uma corda?
E lá chegou a corda que prendeu a
porta do porta-bagagem. Suspirámos de alívio e em bom humor os meus filhos já cansados da atribulada viagem gracejaram em voz alta: -“ viva Portugal”… O taxista
desconhecendo a razão desta
saudação comentou: - “devem estar há muito tempo
fora do pais, não”?- ao que
respondemos em uníssono: - “Sim, há muito tempo”.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
Um Mundo em Mudança (II)
A Europa dos valores e das barbáries
Consta que um dos candidatos á presidência francesa declarou em visita recente à ex-colónia Argélia, que a
colonização francesa de 132 anos, deveria ser declarada um
"crime contra a humanidade", tais foram as barbáries alí cometidas
pelos franceses.
Só posso aplaudir esta iniciativa. Na verdade sou da opinião
de que todos os países colonizadores (incluindo Portugal) deviam pedir
desculpas pelo tratamento de exclusão social, desespero e
de tortura até, a que votaram durante séculos, a maioria dos habitantes nativos das
terras colonizadas. Enumerar essas barbáries seria demasiado longo, pelo que
refiro aqui apenas uma das piores que ocorreu no Congo. A Bélgica do então rei Leopoldo, foi
responsável pela morte de milhões de congoleses que trabalhavam como escravos a
extrair a borracha que enriqueceu os cofres deste pequeno país. Julgando-se
eterno, batizou uma das cidades do Congo (que considerava como propriedade
privada sua) de Leopoldville (hoje Kinshasa). Esta tragédia e o silêncio que se
seguiu a esta barbárie pode ser considerado um dos piores escândalos
internacionais do século XX. Para os congoleses não houve até agora
“compensações” pelo sofrimento, nem julgo ter havido alguma vez um pedido de
desculpas da coroa Belga que continua naturalmente numa vida faustosamente
"limpa".
Parece
que muitos países europeus são céleres a condenar questões de direitos humanos,
apenas quando estão em causa cidadãos europeus ou se os responsáveis pelas
barbáries não forem europeus.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
Um Mundo em Mudança ... (I)
O mundo, em especial nas últimas 4 décadas,
tem presenciado mudanças que durante séculos seriam consideradas como
impossíveis, ou improváveis, quer a nível tecnológico, político, social, ou cultural.
Escrevo sobre este assunto
depois de, durante as minhas arrumações ter dado com um velho número da revista Time que recebo regularmente, e cujo
título de capa era: “ A queda da Europa e do mundo ocidental”.
Durante os último cinco séculos
o Ocidente espalhou a sua cultura, e
organização sócio política por diversas vias, uma das quais pela emigração
maciça dos europeus pelo resto do mundo. Em muitos países da África e nas Américas
os europeus reclamaram como suas, terras que pertenciam aos povos nos lugares
para onde emigraram. Hoje, nesta mesma Europa, nomeadamente em países como a
Inglaterra e a França, há vozes que pretendem impedir que pessoas provenientes
das terras que tanto exploraram cheguem
a esta europa tão apregoada como rica e bondosa. Alguns fazem-no com o pretexto de manterem a
pureza da cultura europeia e não querem partilhar o seu nível de vida com
“estranhos”. Hoje no ocidente, quem o diria há 50 anos, a moda é mesmo
construir muros que impeçam a chegada de emigrantes.
Muitas das mudanças que se verificam a nível mundial, podem ser
associadas ao desejo e vontade que floriu nas populações de diversas nações outrora
consideradas pobres, de reclamarem os mesmos níveis de vida existentes no
ocidente. Muitos europeus ainda não acordaram para esta realidade. Esse desejo implica
que a utilização dos recursos do planeta que não são infinitos, não mais será
privilégio do ocidente, que terá agora, e justamente, de os repartir com mais gente. E quem não quiser compreender e
aceitar esta nova realidade arrisca-se a estar a lutar contra moinhos ou tornar-se num dinossauro.
Alguns exemplos: a China outrora
considerada uma nação pária do Ocidente,
é hoje o maior credor dos Estados Unidos e, convém dize-lo é provavelmente já,
a primeira economia do mundo; tem capacidade para pagar a peso de ouro jogadores
de futebol que vem buscar ao ocidente; milionários da Índia outrora considerada
uma nação de famintos, tornam-se CEOs (gestores) das maiores empresas do mundo,
proprietários de clubes de futebol, e de equipas de formula I, e compram
jogadores de crikett ingleses também pagos a peso de ouro.
Em Portugal, magnatas provenientes
de Angola (também colonizada por séculos pelos portugueses) têm cada vez mais
peso na economia portuguesa sendo considerados como parceiros estratégicos para
a débil economia portuguesa;
Por este andar só falta ver
mesmo a Tunísia, a Somália, o México e o Congo a adquirirem as dívidas públicas
de França, Itália, Espanha e Bélgica, respectivamente,
Tudo isto leva a crer numa
certeza apenas: o mundo vai continuar a mudar e os que pretendem que o tempo
volte para trás, apegados a velhos padrões e dogmas ou
formas
inadaptadamente ultrapassadas de ver o mundo, serão apenas como dinossauros sem
chão para os seus pesados pés.
Para o ocidente, e durante muito tempo, a globalização foi um
modelo sócio económico considerado como vital para quem quisesse ter uma
economia avançada. E assim foi enquanto os grandes beneficiados eram as nações ocidentais.
Agora que a verdadeira globalização se começa a dar, o ocidente queixa-se,
lamuria-se, e quer virar-se para
dentro..!!! Ou há moralidade ou comem todos, diz o povo, e bem.
Subscrever:
Mensagens (Atom)